terça-feira, 23 de agosto de 2011

O último amor de Roxana


“Já faz algum tempo eu vi você passando em minha rua. Sorriso tristonho, contraditório. Ao seu lado um amigo fiel, um cachorrinho. Eu apenas acenei. Mas o seu sorriso me deixou confuso, inquieto, e não sabia o que fazer.”

Ah Roxana! Tão bela, tão doce. Capaz de dividir dois corações, o de Severino de Mossoró e o de Cristiano. Mas eu pensava que era diferente. Sempre que a vi eu tive a ilusão de que seu amor era duro e seco. Me maltratava em saber que Severino não a teria em seus braços. Que Cristiano era apenas um corpo, não era poeta. Como você pôde se apegar a ele? Como não conseguia perceber o amor de Severino? Como não sabia que as cartas eram dele? Me enganava diante de sua beleza. Até eu, um reles espectador, sentia um pouco de raiva por você não se tocar que o amor estava ali, tão perto, ao seu lado. Como não conseguias ver? E eu como mais um Severino, como mais um excluído por ser desprovido de beleza física, vagaba nos poemas do mestre Eliseu Ventania e chorava, chorava, chorava...

Roxana, me perdoe. Julguei você de maneira errada. Julguei nove vezes de maneira errada. Roxana, querida Roxada, há pouco tempo, quando se abriu as cortinas do teatro para seu último ato eu consegui entender. O Amor é mesmo louco. Não há Razão que caiba no Amor. Você foi tão firme em seu amor por Severino que meus julgamentos daquele entardecer silenciaram. Eu vi, sim, eu vi! Você era quem amava de verdade e tão intensamente que nos deixou perplexos. Nos deixou silenciados com uma dor no peito, um aperto, uma pergunta: porque? Porque? Não eras apenas de Severino. Quantos outros Severinos havias conquistado com teu sorriso, com teu olhar? Ah, Roxana! Não! Preferia não ler esta última carta. Preferia não saber que o amor te levou a fazer isto. Mas quem sou eu pra julgar? Quem sou eu pra te condenar? Roxana, será que a dor de perder alguém é tão forte a este ponto mesmo?

Roxana me perdoe. Não quero ser rude. Não quero ser indelicado. Mas esta última carta de amor foi muito ridícula, talvez como tantas outras cartas de amor. Esta última doeu mais. E quando me recordo de você na janela me pego a chorar. Uma lágrima no canto do olho me diz que você está bem. Uma lágrima me diz que você está feliz e que eu não posso lamentar sua partida, pois preciso ser forte e saber que fostes brilhar em outros palcos. Palcos divinos, celestiais, na presença da divindade. Lá, o amor é verdadeiro. Lá... você se sentirá amada!

PS. Está é apenas uma lamentação de um pobre Severino que perdeu alguém que ama. Esse alguém nos deixou em fevereiro. Esse alguém nos deixou por causa do Amor. Para uma eterna estrela nos palcos de minhas memórias, à memória de Ludmila Albuquerque (Roxana)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Flores no deserto


O que será desta vaga existência? Qual o sentido da vida? Tolamente dizer: VIVER não faz milagrosamente minha razão aceitar tal resposta e se conformar com o ser. Tenha pensado tanto sobre isto ultimamente. Tanto que tem até me machucado. Pensar na existência, na vida, implica necessariamente pensar na não-existência, na morte. Será que as religiões, com tantos formatos que só tem verniz e não tem invenção, tem uma resposta para o além? Se tem, qual é a verdade então?

Hoje eu sei, eu sei, mal cheguei a um período balzaquiano e me sinto velho. Até ontem me sentia um adolescente. Um jovem, pra quem a vida é tudo, menos fim. Onde tudo é possível e tudo é eterno. Hoje, não mais. Hoje um velho que tem perdido a esperança com os seus bichinhos de estimação e plantas. Mas, ainda não vivi tudo. E não tenho certeza alguma se a vida é bela.

Vejo na dor da flor que me gerou, uma angústia tremenda de saber que nada é justo e pouco é certo. Onde dará nosso futuro? O que acontecerá com a “geração perdida”? Medo de existir. Medo de envelhecer. Medo de deixar de existir. Será mesmo que a vida é tudo isso? Apenas uma chama acessa ao vento praieiro?

Enquanto não acho as respostas, sigo com as perguntas. Sigo existindo e vivendo. Mas sei, conscientemente, que um dia tudo vai ter um fim. Se estou preparado para este fim?! Não sei, eu pouco sei, eu nada sei. E como flores no deserto regadas a chuva de insetos sei que sou só um, mas não sou um deles. Transito entre esta fabulosa dúvida: “ser ou não ser, eis a questão”.




PS.: Inspirado em dilemas diante do sofrimento de minha mamãe que está doente e em grandes mestres do universo, tais como: Renato Russo, Herbert Vianna, Cazuza, Balzac, Shakespeare e Marcelo Falcão