“Já faz algum tempo eu vi você passando em minha rua. Sorriso tristonho, contraditório. Ao seu lado um amigo fiel, um cachorrinho. Eu apenas acenei. Mas o seu sorriso me deixou confuso, inquieto, e não sabia o que fazer.”
Ah Roxana! Tão bela, tão doce. Capaz de dividir dois corações, o de Severino de Mossoró e o de Cristiano. Mas eu pensava que era diferente. Sempre que a vi eu tive a ilusão de que seu amor era duro e seco. Me maltratava em saber que Severino não a teria em seus braços. Que Cristiano era apenas um corpo, não era poeta. Como você pôde se apegar a ele? Como não conseguia perceber o amor de Severino? Como não sabia que as cartas eram dele? Me enganava diante de sua beleza. Até eu, um reles espectador, sentia um pouco de raiva por você não se tocar que o amor estava ali, tão perto, ao seu lado. Como não conseguias ver? E eu como mais um Severino, como mais um excluído por ser desprovido de beleza física, vagaba nos poemas do mestre Eliseu Ventania e chorava, chorava, chorava...
Roxana, me perdoe. Julguei você de maneira errada. Julguei nove vezes de maneira errada. Roxana, querida Roxada, há pouco tempo, quando se abriu as cortinas do teatro para seu último ato eu consegui entender. O Amor é mesmo louco. Não há Razão que caiba no Amor. Você foi tão firme em seu amor por Severino que meus julgamentos daquele entardecer silenciaram. Eu vi, sim, eu vi! Você era quem amava de verdade e tão intensamente que nos deixou perplexos. Nos deixou silenciados com uma dor no peito, um aperto, uma pergunta: porque? Porque? Não eras apenas de Severino. Quantos outros Severinos havias conquistado com teu sorriso, com teu olhar? Ah, Roxana! Não! Preferia não ler esta última carta. Preferia não saber que o amor te levou a fazer isto. Mas quem sou eu pra julgar? Quem sou eu pra te condenar? Roxana, será que a dor de perder alguém é tão forte a este ponto mesmo?
Roxana me perdoe. Não quero ser rude. Não quero ser indelicado. Mas esta última carta de amor foi muito ridícula, talvez como tantas outras cartas de amor. Esta última doeu mais. E quando me recordo de você na janela me pego a chorar. Uma lágrima no canto do olho me diz que você está bem. Uma lágrima me diz que você está feliz e que eu não posso lamentar sua partida, pois preciso ser forte e saber que fostes brilhar em outros palcos. Palcos divinos, celestiais, na presença da divindade. Lá, o amor é verdadeiro. Lá... você se sentirá amada!
PS. Está é apenas uma lamentação de um pobre Severino que perdeu alguém que ama. Esse alguém nos deixou em fevereiro. Esse alguém nos deixou por causa do Amor. Para uma eterna estrela nos palcos de minhas memórias, à memória de Ludmila Albuquerque (Roxana)
2 comentários:
Sandro é isso ai...que amor louco esse de Roxana por Severino...mas, hoje o que me conforta é saber que agora ela está bem, em paz consigo mesma e brilhando nos palcos da eternidade.
Obrigada e um abraço.
Katiuscia Albuquerque
Caro Sandro! Belas as suas palavras! Espero que o correio "lá de cima" seja eficiente, para que ela possa receber esta carta o mais urgente possível!
Quanto a nós, vamos escrever, escrever... Quem sabe assim a dor da saudade fica grudada nas palavras e o aperto em nosso peito passa um pouco...
Um forte abraço!
Lenilton Teixeira
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