quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Saudoso poeta


Cresci escutando as músicas que minha mãe gostava. Confesso que as mesmas não corresponde ao gosto que acabei por me afinar com o passar do tempo. Porém, é necessário aqui relatar a força da poesia que se encontra nas letras de inúmeros mestres da cultura popular, quer seja no repente, no cordel ou em cantorias de viola.

O gosto musical de minha mãe era uma mistura das tradiçoes mais folclóricas que se possa achar em nosso Estado com a musicalidade brega das décadas de 50, 60 e 70... isso por influência de minha avó, segundo o que ela me conta.

Entres os nomes que ela mais ouvia se encontram os de Carlos Alexandre, Eliseu Ventania, Teixeirinha, Evaldo Freiro e o ainda contemporâneo Bartô Galeno. Vale salientar que meu nome era pra ser o de seu ídolo Carlos Alexandre... por muita insistência de papai, ela resolveu mudar para Alexsandro, uffa ¬¬'

Em Mossoró um dos pontos mais conhecidos da cidade é a tão famosa Estação das Artes. Lugar de festas, do espetáculo Auto da Liberdade e também é o local onde se encontra o Museu do Petróleo. O patrono desse prédio histórico que no passado era a estação férrea, justamente por onde entrava e saia a economia mossoroense é, não por menos, o cantador de viola Eliseu Ventania. Ele, na realidade era natural de Martins, mas veio para Mossoró e a adotou como terra mãe, ao que a mesma correspondeu.

Fico triste de pensar como pode o nosso tempo produzir tantas músicas ruins e nos esquecermos do passado, onde nossos poetas eram mais sinceros em seus pronunciamentos poéticos e musicais. Eliseu perdeu a visão por consequencia de cataratas, mas mesmo assim continuou a fazer sua arte. Tem uma poesia sua interpretada pela cantora Fernanda Takai da banda Pato Fu e é recordado no documentário "A pessoa é para o que nasce".

Abaixo uma poesia triste do grande mestre Ventania.



Ao pé da cruz

Eu fui um dia visitar o cemitério
Lugar de pranto, de tristeza e emoção
Fiquei sabendo que a vida é um mistério
Por uma cena que abalou meu coração

Foi lá que eu vi uma criança ajoelhada
Ao pé da cruz, a lamentar dizendo assim:
“Esta é a cova que mamãe está sepultada
Mamãe o mundo acabou-se para mim”

“A nossa casa permanece abandonada
Minha roupinha nunca mais ninguém lavou
Minha comida é tão mal feita e maltratada
Sou espancado por alguém aonde vou"

"Se adoeço, fico só, ninguém me assiste
Se estou chorando ninguém vem me consolar
Se vejo um filho chamar a mãe eu fico triste
Por que num tenho uma mãezinha pra chamar”

“Eu aconselho a quem tiver sua mãezinha
Agrade a ela, não lhe faça ingratidão
Eu sofro tanto nesse mundo sem a minha
Ninguém me olha, só recebo humilhação”

Eu estava perto observando aquela cena
A criancinha a soluçar sem ter ninguém
Agarradinha com a cruz eu tive pena
Não suportei, saí dali, chorei também

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